A escola tem três pavimentos, mas somente a cozinha e o refeitório são construídos em alvenaria. Nesses locais, todos que estavam no prédio entre as 11h40 e as 14h de quarta-feira, ficaram deitados no chão para escapar de tiros disparados por policiais e traficantes. Tiros atingiram as paredes e o telhado, que ficou cheio de buracos de balas.
A escola não estava cheia de alunos --tem 500, além de 20 funcionários e 12 professores--, porque as crianças do primeiro período estavam no horário de saída quando a operação começou. Algumas dessas crianças não conseguiram sair da escola porque seus pais não podiam se aproximar do local devido ao tiroteio.
Além de a escola ser construída em madeira, ela fica em um ponto estratégico de Senador Camará. A unidade está localizada na estrada do Taquaral, em uma curva da via, onde é possível observar os carros que vêm de Bangu e Campo Grande (ambos na zona oeste). Este ponto fica ao lado da favela e foi utilizado por policiais na quarta-feira para penetrarem no morro.
"Eles acamparam aqui na cerca [da escola]. Os disparos vinham do alto. Atingiram mais o telhado", relatou uma funcionária da escola, que pediu para não ser identificada. Os tiros deixaram o telhado da escola esburacado.
Segundo ela, a prefeitura construiu a escola --que atende alunos de 1ª a 4ª série do ensino fundamental-- há quatro anos para atender a comunidade provisoriamente durante cinco anos.
"Não dá mais para esperar [completar] os cinco anos. Corremos o risco de morrer", diz a mulher. Uma das professoras encontrou uma bala no terreno da escola.
Desde o dia da operação, os pais se recusam a mandar seus filhos para a escola, segundo a funcionária. Os profissionais que trabalham no local também recusam-se a trabalhar com as crianças em risco. "Estamos aqui somente para arrumar as nossas coisas para a mudança", afirmou a funcionária, que disse que os demais empregados e os professores estão na unidade.
Os alunos ainda não foram remanejados para outras escolas, mas a Secretaria Municipal de Educação está providenciando o acolhimento dos estudantes em outras unidades na região, segundo a funcionária. "Nós nos recusamos a voltar a trabalhar e então a secretaria resolveu tomar providências", disse a mulher.
Guerra de números
O IML (Instituto Médico Legal) contabilizou que 13 supostos traficantes, e não dez, morreram durante uma operação da Polícia Civil na favela da Coréia. Oficialmente, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) considerou que dez suspeitos de tráfico morreram.
Além dos suspeitos, morreram um policial civil e o garoto Jorge Cauã Silva Lacerda, 4. No domingo (21), a Polícia Militar foi acionada para resgatar mais um corpo, supostamente de um traficante morto também na quarta-feira.
Segundo moradores, o rapaz, identificado como Alexandre Lima, 23, foi atingido enquanto fugia de policiais por um matagal na favela. Ele seria um dos suspeitos filmados tentando fugir pela mata, enquanto policiais atiravam de um helicóptero.
Seu corpo ficou no matagal até sábado (20), quando traficantes da favela mandaram que o corpo fosse retirado da mata e deixado na estrada do Taquaral, de onde foi resgatado ontem pela PM com um carro blindado.