Os trabalhos de identificação dos corpos de quatro das oito pessoas que morreram ontem em conseqüência da queda do Learjet PT-OVC na Casa Verde (zona norte de São Paulo) podem durar até o final desta semana, informou nesta segunda-feira o diretor-técnico do IML (Instituto Médico Legal), Carlos Alberto de Souza Coelho.
O avião caiu sobre casas na rua Bernardino de Sena, minutos depois de decolar do Campo de Marte. Morreram os dois ocupantes do jato e seis pessoas de uma mesma família, em terra. Duas meninas --de 11 e de 16 anos-- ficaram feridas.
Os primeiros quatro corpos foram identificados por meio de impressões digitais, ainda no domingo. As vítimas são o piloto Paulo Roberto Montezuma Firmino, 39; o co-piloto, Alberto Soares Junior, 25; Ana Maria Lima Fernandes, 21; e o marido dela, Lucas de Souza Só Júnior, 20.
Ainda não foram oficialmente identificados os corpos do filho do casal, Luan Victor de Lima Só, de nove meses; Lina Oliveira Fernandes, 75, seu filho Ayres Fernandes, 54. e a mulher dele, Rosa Lima, 54.
Nos próximos dias, os corpos passarão por um estudo antropomórfico que poderá determinar características individuais como tatuagens e cirurgias realizadas.
Caso, mesmo com o estudo, não seja possível identificar as vítimas, elas serão submetidas a exames de DNA --o processo leva cinco dias.
Coelho afirma que o corpo do bebê será o mais difícil de identificar porque existem "menos padrões de comparações". De acordo com ele, todos os corpos estão mutilados, o que impede o reconhecimento visual.
Segundo ele, o dano, porém, não é comparável ao sofrido pelas vítimas da explosão do Airbus da TAM, em julho passado. "Quando explodiu [o Learjet] queimou os corpos, mas não a ponto de carbonizar. Nas vítimas da TAM, a carbonização era intensa", afirmou.
Investigação
Técnicos do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) realizam nesta segunda-feira um "pente-fino" na área onde ontem caiu o Learjet. O objetivo é recolher destroços da aeronave que possam auxiliar nas investigações. Os bombeiros auxiliam as buscas.
Também hoje, policiais do 13º DP (Casa Verde) conversam com familiares das vítimas e testemunhas do acidente em busca de informações que possam auxiliar o inquérito aberto para investigar o caso.
Ontem (4), o coronel Carlos Minelli de Sá, do SRPV (Serviço Regional de Proteção ao Vôo), órgão ligado à Aeronáutica, afirmou que, após a decolagem, o Learjet girou à direita, enquanto a trajetória prevista era virar à esquerda. Controladores da torre de comando do Campo de Marte teriam tentado alertar piloto e co-piloto sobre o erro, mas não receberam resposta.
Os motivos pelos quais o Learjet adotou a trajetória errada serão investigados nos próximos 30 dias. O equipamento do avião que grava a conversa entre a torre de controle e a cabine do avião --chamado CVR (Cockpit Voice Recorder)-- foi localizado ontem mesmo.
O jato, com capacidade para dez pessoas, era da Reali Táxi Aéreo. A empresa afirma que a aeronave estava "dentro de padrões normais de operação".
Acidente
O avião havia decolado do Campo de Marte (zona norte) às 14h05 de domingo com os dois tripulantes a bordo e destino ao Rio de Janeiro.
Minutos depois, o jato caiu de bico sobre as casas dos números 118 e 104 da rua Bernardino de Sena. Os dois imóveis ficaram destruídos. O avião também causou danos em duas casas vizinhas, as dos números 120 e 126. O local está interditado, e os moradores que saíram ilesos foram levados pela Defesa Civil Municipal a um hotel da região.
Foi o quinto acidente aéreo ocorrido no Estado em cinco dias. Na tarde da última quinta (1º), três helicópteros caíram em diferentes pontos de São Paulo --Carapicuíba e Mogi das Cruzes, na região metropolitana; e em Ribeirão Preto (314 km a norte de São Paulo)-- deixando, no total, três pessoas mortas e sete feridas. Na quarta, um avião Tucano da FAB (Força Aérea Brasileira) caiu em Pirassununga (213 km a norte de São Paulo). Ninguém ficou ferido.