A presidente nacional do PSOL, a ex-senadora Heloísa Helena, confirmou que o partido terá candidatura própria em todas as capitais brasileiras. Ela admite que o partido é uma legenda pequena, mas descarta que seja “nanico”. “Reconhecemos humildemente que o PSOL ainda é uma estrutura partidária pequena. Ele não é um partido nanico porque tem partido grande que é nanico moral. Mas o PSOL ainda é uma estrutura pequena para enfrentar sua primeira campanha municipal”, observa a ex-senadora.
Com a experiência de quem já ocupou uma cadeira no Senado Federal, Heloísa Helena diz que não há legitimidade no fato de o PMDB ter que fazer o sucessor do presidente licenciado da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). Mas evita falar em nomes para suceder o conterrâneo e não comenta nem mesmo se apóia ou não o pleito do senador potiguar Garibaldi Filho (PMDB), que deseja chegar à presidência do Senado. A seguir os principais temas da entrevista.
Senado Federal.
“O Congresso Nacional é uma estrutura apodrecida quando o Palácio do Planalto estrutura apodrecida é. Para existir o banditismo precisa existir a promiscuidade na relação com a chefia do Executivo. Todos os crimes na administração pública, os denunciados e patrocinados pelo senador Renan Calheiros, tráfico de influência, exploração de prestígio, corrupção passiva e ativa, formação de quadrilha... só existe quando se estabelece a triangulação entre o chefe do Executivo ou seus ministros e secretários, os parlamentares no Congresso Nacional e parte do setor empresarial. Para existir a triangulação do ‘propinódromo’ com o dinheiro público precisa que ocorra a triangulação da promiscuidade. Esse é o momento mais difícil para o Senado, como se já não fosse muito o banditismo político que o Brasil assistiu constrangido, de mensaleiros, sanguessugas e dólares nas peças íntimas”.
CASO RENAN
“Um País onde um Congresso Nacional apresenta leis tão rígidas e aplica essas leis de forma tão implacável para uma mãe de família pobre que é condenada a uma cela imunda e presídio desumano porque rouba uma lata de leite para alimentar o seu filho faminto, não tem o direito de proteger um senador que patrocinou crimes contra a administração pública. Claro que não é o único parlamentar envolvido no ‘propinódromo’. Os crimes patrocinados por ele só aconteceram porque houve a participação e a promiscuidade do Palácio do Planalto”.
SUCESSÃO SENADO/PMDB
“Não acho legitimidade (para o novo presidente ser do PMDB). Ela (a legitimidade da indicação do presidente) dar-se-á se a Casa for capaz de indicar para a presidência do Senado não necessariamente um quadro que represente um ou outro partido, mas um quadro político que possa de alguma forma minimizar o impacto negativo perante a sociedade brasileira, que foi dada com o caso do atual presidente do Senado. O senador Renan Calheiros só foi afastado porque o presidente (Luiz Inácio Lula da Silva) Lula quer aprovar a farsa técnica e essa fraude de política chamada CPMF. O presidente Lula operou com toda sua base ‘bajulatória’ montando um vexatório balcão de negócio sujo para obstacular os procedimentos investigatórios relacionado ao senador Renan, mas como não conseguiu comprar o jornalismo investigativo e não silenciou a sociedade, acabou tendo que negociar o afastamento para aprovar a CPMF”.
Fidelidade partidária
"Somos totalmente favoráveis à fidelidade partidária. E de uma forma mais especial. Nos relatórios apresentados pelos ministros eles deixaram claro qual avaliação eles fazem da fidelidade partidária. Nós tivemos uma experiência, nós quatro parlamentares expulsos por fidelidade partidária, tínhamos preocupação de como o debate aconteceria. Os relatórios e os votos e pareceres do Supremo (Tribunal Federal) foram importantes porque deixaram claro que a fidelidade é a fidelidade ao programa do partido e aos compromissos assumidos no processo eleitoral. Se a cúpula de partido muda de lado, patrocina traição aos ideais do partido, isso não poderia motivar perda de mandato. Agora mudar de partido por conveniência, aí é absolutamente necessário que ocorra perda do mandato, para evitar promiscuidade”.
Eleições 2008
“Reconhecemos humildemente que o PSOL ainda é uma estrutura partidária pequena. Ele não é um partido nanico porque tem partido grande que é nanico moral. Mas o PSOL ainda é uma estrutura pequena para enfrentar sua primeira campanha municipal. Vamos ter disputa em todas as capitais e outras prefeituras onde nós pudermos, na construção de um projeto para as prefeituras e a participação nas câmaras de vereadores”.
VAGA OCUPADA POR COLLOR
“Quando houve a decisão do PSOL de que eu seria candidata à Presidência, ele não tinha se decidido pela candidatura. Ele foi covarde o suficiente para só decidir ser candidato ao Senado quando já estava definido que eu seria candidata a presidente da República. Óbvio que eu fiz um sacrifício eleitoral, não um sacrifício político porque para mim foi uma honra representar no plano nacional a esquerda socialista democrática que não se vendeu e não se rendeu para se lambuzar nos banquetes fartos do poder. Mas evidente que fui a única que fiz o sacrifício eleitoral de disputar as eleições. Óbvio que nessa conjuntura que eu gostaria de estar no Senado contribuindo humildemente para, de alguma forma, ajudar o País e ajudar Alagoas nesse momento. Não tenho arrependimento, até porque faz parte do processo democrático. Não tenho dúvida sobre o que elegeu o presidente Collor. O que elegeu o senador foi as mutretas do Lula. O que mais se ouvia nas periferias de Maceió era isso, que o Lula roubou mais do que ele (Collor) e vocês não cassaram. É constrangedor e entristece, mas são os riscos da nossa frágil democracia representativa brasileira”.