Analistas concordam que o aumento na produção de petróleo tem o potencial de transformar o papel do país na região e no mundo, mas eles também concordam que a tarefa à frente é complexa.
A descoberta do que podem ser reservas de petróleo imensas além da costa do Brasil, anunciada na semana passada, tem o potencial de transformar sua indústria do petróleo e catapultar o país ao status das nações produtoras de petróleo.
"Podemos ir para um patamar onde estão Arábia Saudita e Venezuela", disse Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Talvez ela tenha se deixado levar pela euforia do momento. Todavia, muitos analistas concordam que a descoberta tem o potencial de transformar o papel do Brasil na região e no mundo, tornando-o mais confiante na busca de metas como um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e ingresso no grupo G8 dos principais países industrializados.
A notícia da semana passada se concentrava no campo de Tupi -no momento, pouco mais de dois poços exploratórios a 280 km da costa do Brasil, na Bacia de Santos. Mas os dois poços confirmaram que o campo contém entre 5 e 8 bilhões de barris de petróleo, não muito menos do que todas as reservas da Noruega, que eram de 8,5 bilhões no ano passado, segundo os números da BP. Potencialmente, o campo adicionaria mais de 50% aos 14,4 bilhões de barris de reservas comprovadas de petróleo e equivalente de gás natural do Brasil.
Mas Tupi pode ser apenas o início. Seu petróleo se encontra sob uma gigante camada de sal, com 800 km de extensão, 200 km de largura e até 2 mil metros de espessura. Sua espessura média é de cerca de 500 metros, segundo Nilo Azambuja da HRT, uma empresa do Rio de Janeiro que presta serviços geológicos para a Petrobras, a companhia de petróleo brasileira controlada pelo Estado.
O campo de Tupi se encontra a uma profundidade de 6 mil metros, sob 2 mil metros de mar e 4 mil metros de rocha e sal.
"O sal apresenta enormes dificuldades operacionais", disse Azambuja. A
primeira é que ele absorve ondas sísmicas, o que dificulta "ver" o que se
encontra abaixo. A segunda é que, sob grande calor e pressão, o sal é
"plástico", o que significa que os poços são difíceis de perfurar e sofrem colapso facilmente.
Todavia, a Petrobras e suas parceiras fizeram 15 poços passando pela camada de sal e analisaram os resultados de oito: quatro na Bacia de Santos, um na vizinha Bacia de Campos, e três mais ao norte, além da costa do Estado do Espírito Santo.
"Todos os poços testados deram resultados positivos", disse Sérgio
Gabrielli, presidente da Petrobras, ao "FT" na semana passada. "Todos
confirmaram as mesmas condições e estruturas de Tupi."
A descoberta sugere que todo o petróleo extraído até o momento além da costa do Brasil verteu pela camada de sal, pegando impurezas ao longo do
caminho -o motivo para ser um óleo cru pesado, de baixa qualidade. O
petróleo abaixo do sal é mais leve, de alta qualidade. E há muito dele. "É muito grande. Não posso dizer mais que isso", disse Gabrielli.
Matthew Shaw, um analista da consultoria de energia Wood Mackenzie, disse que a descoberta em Tupi abre a possibilidade de exploração de "dezenas de bilhões de barris" na área -apesar da verdade só poder ser realmente conhecida com mais exploração.
Todavia, o governo brasileiro está tomando precauções agora, removendo 41 blocos da rodada de licitação de exploração planejada para este mês, para avaliar seu verdadeiro potencial e talvez considerar pedir termos melhores para as empresas interessadas em desenvolvê-los. Os blocos removidos estão todos localizados acima da camada de sal.
Gabrielli disse que a produção em Tupi poderá começar em 2011, com um
projeto piloto produzindo 100 mil barris por dia. A produção crescerá
gradualmente até várias vezes tal quantidade ao longo dos anos.
Mas analistas do setor dizem que a tarefa à frente é complexa e que o custo de desenvolvimento do campo de Tupi poderá chegar a US$ 50 bilhões. Por toda a indústria, as companhias de petróleo já sofrem com o peso da escalada de custos e escassez de engenheiros qualificados e equipamentos.
Gabrielli disse ao "FT" em agosto que seria um "verdadeiro desafio" levar a cabo os projetos de sua empresa. "As cadeias de fornecedores estão sob
pressão", ele disse.