segunda-feira, 12 de novembro de 2007

A ligação gratuita

O Google chegou ao telefone. A maior empresa do mundo virtual apresentou nesta semana o projeto que mantinha em sigilo há mais de dois anos – e que todos do mercado já batizavam de GPhone. É mais do que um simples aparelho com a marca colorida que se tornou sinônimo de inovação. Batizada de Android, a nova plataforma lançada oferece o que, até então, ninguém oferecia: um sistema operacional adaptável a qualquer celular, com dezenas de aplicativos, sem limite para a inclusão de novos – e, como reza a cartilha do Google, tudo de graça para o usuário. Com um só comando, será possível acessar, por exemplo, o Google Maps, o serviço de busca, a página do Orkut ou o serviço de correio eletrônico, o Gmail. Os telefones celulares com o programa chegam às lojas no segundo semestre de 2008. O Brasil pode entrar nessa onda também. “Isso envolve a decisão dos fabricantes, mas nós acreditamos que o novo sistema deve chegar aí nesse mesmo prazo”, disse à DINHEIRO Andy Rubin, o criador do Android (leia entrevista na pág. 46). O anúncio da empresa foi um balde de água fria nos insistentes rumores de que seria lançado, finalmente, o celular GPhone, um concorrente direto do iPhone, da Apple. Mas essa possibilidade não está afastada. Especialistas acreditam que, mais dia, menos dia, o lançamento de um aparelho exclusivo ocorrerá. Enquanto isso não acontece, estima- se que já existam, pelo menos, 20 modelos criados por parceiros do Google (como Motorola, Samsung e LG) que utilizarão o novo software da empresa. Há fabricantes esperando o sinal verde para criarem os seus aparelhos.

Não é difícil entender o interesse no Adroid. Ao contrário do que ocorre com os concorrentes, o sistema anunciado pelo Google tem código aberto. Ou seja, pode ser usado sem pagamento de licenças e modificado livremente. Já o Windows Mobile, da Microsoft, disponível no mercado, exige licença paga para funcionar. Mais: o Android dá liberdade para o consumidor escolher a marca de celular entre dezenas de opções. Já o iPhone, da Apple, não é assim. Há um, e só um, modelo à venda. O Google promete um navegador de internet “robusto”, segundo disse Rubin na semana passada, nos EUA. Detalhe: no sistema Symbian, um navegador para telefonia móvel desenvolvido por fornecedores como Nokia e Ericsson, a crítica principal dos clientes é a lentidão da rede. Foi pensando em tudo isso que o presidente mundial do Google, Eric Schmidt, saiu dizendo aos quatro cantos que o lançamento “é muito mais ambicioso do que se esperava”. Parte desse jogo, obviamente, é reforçar a mística de inovação e modernidade que envolve a empresa.

Ótimo, mas há uma questão crucial a ser respondida. Qual será o preço do Android? Como será a qualidade da rede? Aparelhos dotados com o Symbian, por exemplo, podem ser adquiridos por R$ 99, e o código também é aberto. No iPhone, o sistema é fechado, mas leva-se para casa um design revolucionário por US$ 399. O preço dos aparelhos com o Android ainda não foi divulgado, assim como se sabe pouco do design. O tamanho de um dos aparelhos, da fabricante HTC, até chegou a vazar ao mercado na semana passada (ele tem 7,6 cm de largura e 12,7 cm de comprimento), mas ainda há poucos dados. E também não se tem idéia do desempenho do aparelho com todos os aplicativos funcionando. É certo, porém, que o Google não abandonará seu modelo de negócios baseado na venda de espaços publicitários, principalmente os chamados links patrocinados, anúncios pequenos que aparecem nos sites de busca. A publicidade é a principal fonte para o faturamento do grupo – US$ 11,7 bilhões até setembro. Ao colocar na praça o Android, o grupo ampliará a audiência de seus serviços e, assim, valorizará ainda mais os espaços publicitários que vende, numa receita de sucesso que, até agora, não deu sinais de esgotamento.

“FIZEMOS MAIS DO QUE SE ESPERAVA”

Nos últimos anos, Andy Rubin esteve à frente de um dos principais projetos do Google no mundo, o software livre para telefonia celular. Sob seu comando, mais de 100 engenheiros projetaram o modelo anunciado nesta semana. Cofundador da Android, empresa comprada pelo Google em 2005 (e que dá nome ao programa), Rubin falou à DINHEIRO da Califórnia, nos EUA, sede do Google.

O Brasil pode esperar pela chegada do software livre do Google em 2008?
Sim, acredito nisso. É claro que a decisão é das empresas operadoras, mas estou muito animado com a possibilidade de levarmos o produto ao Brasil e ver a reação dos consumidores por aí.

O sr. disse em recente entrevista que o foco da operação não é encher o sistema de anúncios. Mas a empresa tem seu modelo de negócio focado na receita com anúncios. Como conciliar as duas coisas?
Há tipos diferentes de publicidade. A missão do Google é separar e organizar as informações. Isso está no nosso DNA. Nós não queremos o que é irrelevante e sem sentido também na propaganda. Anúncios não podem ser invasivos ou inúteis para as pessoas e é exatamente isso até que deve aumentar o próprio valor do nosso negócio.

Por que não lançar um aparelho com marca, como todos esperavam e esperam da empresa...
A telefonia é um mercado interessante. Mas a conta é a seguinte: há três bilhões de telefones no mundo, mas só 1,5 bilhão de usuários de Internet. Então não vejo sentido em colocar a marca do Google num telefone. Existem por aí mil diferentes modelos de celular à venda e nosso foco agora é o software.

Existiam fortes rumores de que o lançamento do Googlephone estava próximo. Todos estavam errados?
Todos ficaram surpresos porque foi algo maior até do que se imaginava. Não estamos trabalhando num celular do Google agora. A nossa prioridade é o Android. E não se trata de um segredo de lançamento.

O que o consumidor pode esperar desse novo software aplicado ao celular?
Você terá, por exemplo, o Google Maps em aplicações agora não mais isoladas nos celulares, porém totalmente integrado. E isso se dará nos mais diversos serviços que dispomos. Esta é a primeira vez que vamos oferecer tudo de forma unificada. A plataforma do Google suportará recursos multitouch e terá um navegador robusto. Além disso, o que será possível observar na nossa plataforma é que ela é muito simples de se desenvolver. O que nós queremos com tudo isso é dar opções ao consumidor. Nós queremos que ele possa escolher o melhor. Os celulares estão ficando cada vez mais baratos e as redes ganharam muito em velocidade, e nós queremos participar dessa evolução, uma evolução tecnológica em que o consumidor será o principal ganhador.

O sr. é o homem por trás dessa operação. Como se sente agora?
Aliviado e animado. É um grande momento da minha carreira e estou muito orgulhoso da minha equipe de engenheiros. O importante aqui é que estamos dando aos consumidores mais uma opção e nós realmente acreditamos que eles terão uma experiência muito melhor e mais interessante com os aparelhos nessa plataforma.

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