A procura para conversão de gasolina ou álcool para Gás Natural Veicular (GNV) em automóveis caiu em até 70% neste mês de novembro nas oficinas de Salvador em relação ao ano passado. Na empresa de conversão Gáscom, em Mata Escura, que já está há sete anos no mercado, ao todo, de janeiro a outubro foram feitas, por mês, uma média de 50 a 60 conversões, enquanto em novembro, só foram realizadas 27.
Considerado um mês de grande movimento devido ao pagamento da parcela do 13º salário, em novembro de 2006, esse número chegou a 90 conversões, garante a gerente do estabelecimento, Maria Lúcia Costa, que associa a queda na procura pelo kit gás ao anúncio feito pela Petrobras, no último dia 30 de outubro, da suspensão de fornecimento de gás no estado do Rio de Janeiro e ao conselho do ministro das Minas e Energia, Nelson Hubner, para que os consumidores evitassem novas conversões diante da perspectiva de falta do combustível. Segundo o ministro, a prioridade é garantir o gás para as usinas termelétricas.
Outra empresa que também registrou uma queda significativa foi a Rode Gás, na av. Bonocô, que atua no comercio há cinco anos. Desde o início do ano a empresa vinha mantendo uma média de 30 a 40 conversões. Depois do anúncio, a empresa registrou 35 conversões em outubro. No mês de novembro, esse número caiu para seis.
O preço é outro agravante que tem afastado os consumidores das oficinas de conversão e dos postos de abastecimento. João Andrade, supervisor do posto de combustível Ipiranga, da avenida Antônio Carlos Magalhães, diz que o movimento de abastecimento do GNV caiu em 20% desde o início de ano. Em janeiro o consumo do GNV foi de 300 mil metros cúbicos/mês, já em outubro, foram consumidos 260 mil metros cúbicos/mês. Andrade associa ainda a queda no movimento ao fato de que outros postos de combustíveis também passaram a fornecer GNV, aumentando a concorrência. Na Bahia, são 52 postos, 33 em Salvador.
Além do preço, o gás natural tem no álcool um forte concorrente nos postos de combustíveis. Atualmente, o valor do GNV em Salvador é R$ 1,579 por metro cúbico, enquanto que o álcool custa R$ 1,52 por litro. A gasolina é ainda considerado o combustível menos acessível, custando R$ 2,57 por litro.
O proprietário da oficina de conversão Rode Gás, o empresário Fábio Campos diz que essa queda na procura pelas conversões esta associada principalmente a falta de esclarecimento da população em relação a distribuição e ao consumo do gás natural, em especial o veicular. “Na região Nordeste o governo não realizou uma campanha de incentivo ao GNV, portanto muitas pessoas desconhecem seus beneficios. Mesmo ele tendo sofrido aumento de preço, ainda é um combustível mais acessível em relação aos outros”, comenta o empresário.
Comparando com o álcool, diz Fábio Campos, com um metro cúbico de GNV é possível “rodar” 4 km a mais que com um litro de álcool ou gasolina, gerando uma economia de 40%. Campos questiona ainda que o valor do álcool é variável e sofre com as condições do meio ambiente. “O álcool está mais barato neste momento por conta da super safra. Mas, com a entresafra, o valor deverá subir”, avalia.
O empresário garante que o GNV teria que dobrar o seu valor para deixar de ser competitivo e acredita que até janeiro a procura por conversões nos automóveis volte ao normal.
Na Bahia existem 1.741.733 veículoslicenciados pelo Departamento de Trânsito (Detran), sendo que 45.265 deles estão licenciados para uso de GNV, segundo dados da Coordenação de Tecnologia da Informação do órgão.
Taxistas se sentem prejudicados
O presidente do Sindicato dos Taxistas da Bahia (Sinditáxi), Carlos Augusto Dias, afirma que o preço elevado do GNV afeta a categoria, que investiu no equipamento de conversão de combustível, “Kit Gás”, justamente para aumentar os ganhos diminuindo os gastos com abastecimento. “Entramos de cabeça neste investimento, para agora ouvirmos falar em crise de gás. Mais uma vez os taxistas se sentem iludidos, antes com o álcool, agora com o gás”, acrescenta o sindicalista.
O presidente do Sindicato dos Taxistas da Bahia (Sinditáxi), Carlos Augusto Dias, afirma que o preço elevado do GNV afeta a categoria, que investiu no equipamento de conversão de combustível, “Kit Gás”, justamente para aumentar os ganhos diminuindo os gastos com abastecimento. “Entramos de cabeça neste investimento, para agora ouvirmos falar em crise de gás. Mais uma vez os taxistas se sentem iludidos, antes com o álcool, agora com o gás”, acrescenta o sindicalista.
Taxista a 30 anos, Nilton Facchinetti revela estar inseguro. Para ele, o governo não se preocupa em dar garantias à população. “Somos massa de manobra de um governo que em um dia aconselha a investir e no outro diz que não é bem assim, sendo que no final, como sempre, quem paga tudo é o povo”, critica o taxista que chega a rodar 200 km por dia.
Colega de trabalho de Nilton, Marcelo Argolo, taxista há 6 anos, declara que se trocasse seu carro hoje, não colocaria o Kit Gás. Para ele, com os automóveis bicombustíveis de fábrica (álcool e gasolina), não faria um investimento tão caro, utilizaria o álcool para trabalhar.
O estudante Higor Fiuza de Oliveira, 20 anos, usuário do GNV há quase três anos optou pelo combustível visando economizar, mas tendo o álcool como opção por uma diferença de preço mínima, não vê mais vantagem na conversão. “Eu chegava a rodar 150 km por dia, entre casa, trabalho e faculdade. Hoje em dia não vejo mais essa vantagem com esse preço do gás. É um investimento que para mim não vale mais a pena”, declara o jovem.
O Técnico e estudante de engenharia de produção química, Bruno Pina, que também fez a conversão para economizar no combustível, diz que a vantagem de usar GNV diminuiu muito. “Hoje em dia, com carro flex (movidos a álcool e gasolina) não vejo mais vantagem de colocar gás. Embora com o gás o custo ainda consegue ser menor. Se roda mais com 1 m3 de gás do que com 1 litro de álcool”, declara.
Já o empresário Leonardo Mello e Cerqueira, dono da Espetito, empresa especializada em fornecer churrasco de carne de avestruz em espeto para eventos, ainda vê vantagens na conversão. “Já uso gás faz um bom tempo, as vezes chego a rodar mais de 200 km por dia, e mesmo que o preço tenha aumentado, para mim ainda vale a pena.
Quanto ao investimento, Cerqueira declara que a economia que fez pagou o custo do kit. “Acho sim que deveria ser mais barato, mas mesmo não sendo, acredito que o gás ainda é a melhor alternativa. Eu me considero satisfeito”, completa. O valor do Kit gás atualmente em Salvador oscila entre R$ 2.500 e R$ 3.000.
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