A Amazônia ficará fora da síntese política sobre o clima, que cerca de 130 delegações estrangeiras discutem no âmbito do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), segundo fontes que acompanham as negociações a portas fechadas na cidade espanhola de Valência.
Essas fontes disseram à BBC Brasil que os delegados deixaram de mencionar a Amazônia ao aprovar, na quarta-feira, a parte do texto que fala sobre os impactos do aumento da temperatura nos diversos ecossistemas do planeta.
O rascunho que está sendo discutido fazia um alerta para a diminuição do gelo no Ártico, a exposição das pequenas ilhas à elevação do nível do mar, as chances de tempestades nos deltas de rios asiáticos e a vulnerabilidade da África.
Os delegados debatem até o sábado, data prevista para o divulgação final do relatório do IPCC, a chamada "síntese para formuladores de políticas públicas", uma versão resumida das conclusões técnicas do painel que "mastiga" os pontos mais relevantes dos documentos técnicos, com vistas a orientar as decisões políticas.
Savana
A Amazônia não foi expressamente mencionada em nenhum documento político que acompanhou os documentos técnicos ao longo do ano, e só seria incluída neste --que é um resumo dos anteriores-- se as delegações adotassem o raro procedimento de incluir informações tiradas diretamente dos originais.
No parecer técnico, o IPCC chancelou a informação de que existe uma tendência de parte da floresta a virar savana se continuarem as atuais políticas públicas.
Entretanto, como explicou um dos revisores científicos do IPCC à BBC Brasil, "à parte um ou outro modelo, há pouca evidência científica para caracterizar o impacto da mudança climática sobre a Amazônia".
O IPCC, por uma questão metodológica, só incluiu estudos publicados até o final de 2004. Pesquisas mais recentes, que poderiam acrescentar dados à compreensão de como a Amazônia se comporta diante da mudança climática, não foram incluídas.
Irreversível
Em Valência, as delegações continuam avançando a um passo que descrevem como "lento". O documento político, de 22 páginas --cuja versão final o IPCC espera limitar a 23--, é discutido palavra por palavra, porque tem grande potencial de influenciar as negociações do acordo que substituirá o atual protocolo de Kyoto.
Embora Kyoto só expire em 2012, os líderes darão a largada nas negociações já a partir de dezembro, em uma reunião que ocorrerá em Bali, na Indonésia.
Na quarta-feira, uma das discussões se deu em torno de um dos trechos do relatório, que dizia, em inglês, que "as atividades humanas podem levar a mudanças climáticas e impactos abruptos e irreversíveis". A delegação americana objetou e pediu mais detalhes do significado do termo "irreversível".
Os Estados Unidos, que não ratificaram o Protocolo de Kyoto e foram acusados de tentar minar as discussões sobre o clima na reunião do G8, na Alemanha, são apontados como partidários de "suavizar" também as conclusões do IPCC.
No dia anterior, os Estados Unidos quiseram modificar o texto para evidenciar o papel de países emergentes nas emissões de CO2, enquanto a China propôs mudanças destacando a responsabilidade dos países industrializados no aquecimento global.
A delegação brasileira não foi considerada como especialmente "intervencionista". A posição de outro grande emergente, a Índia, foi descrita como de enfatizar no documento a vulnerabilidade de países pobres diante dos efeitos da mudança climática.
Na reunião de Bali, em dezembro, os líderes mundiais serão cobrados para dar respostas a cada um dos desafios apontados pelo IPCC, cujas opiniões, que já eram respeitadas, ganharam ainda mais atenção mundial com a premiação do Nobel da Paz neste ano.
O IPCC dividiu o prêmio com o ex-vice-presidente dos Estados Unidos e ativista internacional pelo combate ao aquecimento global, Al Gore.
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