Bairro popular com casas simples e cheio de becos. Ao mesmo tempo que parece uma cidade do interior, com forte marca cultural, o Garcia se contrapõe com prédios altos e colégios com tradição religiosa de classe média-alta. Há quem prefira separar o bairro em dois: Fazenda Garcia e Garcia. Mas isso não importa, o que se destaca é a qualidade de vida dos moradores e o aspecto peculiar do local.
Tudo começou onde hoje funciona os colégios estaduais Edgard Santos e Hildete Lomanto. Lá era o portão de entrada da Fazenda Garcia, origem da formação do bairro, habitado no século XIX. Há controvérsias de quem seria o proprietário, se o português Manoel Correia Garcia ou o conde Garcia D’Ávila, senhor da Casa da Torre – um dos maiores latifúndios do Brasil. Estudos e levantamentos feitos por moradores junto ao historiador Cid Teixeira apontam o português como o real dono.
Na região em torno da fazenda, precisamente na Rua do Baú (Dom Manoel I), os empregados do fazendeiro começaram a fixar residências, conforme relata o industriário aposentado Lourival Chaves. Aos poucos, novas casas foram surgindo, e as terras começaram a ser arrendadas, usadas para fazer roças e hortas. Lorito, como é conhecido, reúne material e faz pesquisas para escrever um livro sobre a história do bairro.
Casas simples e humildes formaram a região em volta da fazenda, hoje conhecida como ‘final de linha’ ou mesmo Fazenda Garcia. O clima é familiar, e a veia artística dos moradores se sobressai e ganha destaques nacional e internacional. Muitos dos mais velhos escreveram seu nome na história e estão vivos, prontos para relatar. É o caso do sambista Riachão, 85 anos, um dos maiores do Brasil, nascido e criado no Garcia. Quando não está em viagem, é lá que fica com a família.
O ator Lázaro Ramos, 29 anos, foi criado no bairro. Até hoje, seu pai mantém um sobrado na Rua do Baú, nº 49-E, que hospeda Lázaro quando está na capital. A segunda miss universo brasileira, Marta Vasconcelos, e campeões brasileiros no esporte, como Pedro Brás – integrante da seleção em 1933 – e Miltinho – campeão em jogo de botão em 1976 – também foram criados no bairro. “Aqui é rico em cultura e artistas, há respeito entre as pessoas”, define Alexandro Vasconcelos, músico e compositor.
Religião – Do outro lado do bairro, as marcas atuais são religiosas, e as casas, hoje, se misturam com prédios. Foi na Avenida Leovigildo Filgueiras que, no final do século XVIII, construiu-se o solar que abrigou o 8º Conde dos Arcos, dom Marcos de Noronha Brito, último vice-rei do Brasil. Ele foi governador da Capitania da Bahia de 1810 a 1817. Quando transferido para o Rio de Janeiro, em 1818, construiu um casarão nos padrões do Solar Conde dos Arcos da Bahia.
Em 1938, o espaço foi tombado como patrimônio histórico e comprado pela missão presbiteriana norte-americana, passando a abrigar o Colégio Dois de Julho (hoje Fundação Dois de Julho – entidade mantenedora do colégio e da faculdade). A tradição religiosa no ensino já existia no bairro com a construção pelos jesuítas do Colégio Antônio Vieira, em terra adquirida da Fazenda Garcia, em 1932. Hoje, há ainda outras instituições de educação, com tradição religiosa, como o Colégio Sacramentinas.
Próximo à Fundação Dois de Julho, há o parque da Arquidiocese de São Salvador – construção do século XIX que guarda riquezas arquitetônicas. Este funcionou como o Asilo Conde de Pereira Marinho e por muitos anos foi ocupado pelas Dorotéias. Ele não é tombado pelo patrimônio histórico. No entanto, a atual reforma busca preservar todas as características originais. No bairro, há representações de outras religiões. A Igreja Matriz Nossa Senhora de Lourdes fica no final de linha. Antes, era uma capela, construída em 1906.
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