O bispo de Barra, dom Luiz Flávio Cappio, entra nesta terça-feira, 11, no 15º dia de greve fome em Sobradinho sem uma solução à vista para seu protesto, que visa impedir a continuidade nas obras de transposição do Rio São Francisco. De olhar manso, fala tranqüila, porém segura, o religioso não esconde que manter uma greve de fome por duas semanas é uma batalha difícil, mas com a qual se acostuma depois que o organismo se habitua à falta de alimento.
“Cada dia de jejum é muito pesado, principalmente os primeiros dias. Depois continua pesado, mas a gente tem mais domínio da situação”, explica. Para manter a disciplina, ele diz serem necessários três requisitos: “Primeiro, uma grande espiritualidade. Segundo, uma imensa motivação. Terceiro, uma grande força de vontade”. Essa fé que o move é sentida por todos que travam contato mais próximo com ele.
Sempre com um sorriso no rosto a oferecer, dom Luiz Flávio Cappio tem conquistado a simpatia daqueles que cruzam com ele. Hoje, ele se posiciona terminantemente contra a transposição por conhecimento de causa. “Dizem que o Rio São Francisco está na UTI. Para mim, ele está na fila do SUS (Sistema Único de Saúde) e não sabe se vai ser atendido. Nós não podemos deixa-lo morrer, senão nós morreremos com ele”.
Por isso, a opção pela greve de fome como forma de mobilizar a sociedade e o governo, pois a vida, para ele, já está em jogo de qualquer maneira.
“A cada dia que passa é uma preocupação maior, mas a gente respeita muito. Eu acho que tem toda razão em dar esse grito, porque infelizmente nesse País só assim alguém consegue chamar um pouco de atenção”, observa a irmã, Rosa Maria Cappio Guedes.
Apoio – Caçula de quatro filhos, cujos pais não estão mais vivos, dom Luiz tem recebido apoio direto da família, durante esses 15 dias. Os irmãos Rita, João Franco e Rosa Maria, além de um cunhado e um sobrinho, fizeram questão de estar ao lado dele, neste momento, em Sobradinho, onde pretendem permanecer até a resolução final da situação. “Confiamos nele plenamente e o que ele achar que deva fazer, será feito. Nós estaremos junto com ele até o fim, se Deus quiser”, assegura João Franco.
Rita, a mais velha dos quatro, concorda: “Nós estamos sempre de acordo com os propósitos dele, pois achamos merecedor de toda nossa confiança, de todo nosso apoio e carinho. Estamos aqui desde o começo, solidários a tudo o que ele acha correto”.
“Eu o descrevo como uma pessoa especial, de uma fé profunda, de muito esperança e confiança em Deus”, elogia Rosa Maria. Ela foi uma das que participou do jejum solidário de 24 horas, entre sexta-feira e sábado passados. “O organismo pede muito. Você se sente fraca e parece que não vai agüentar“. Este ato em apoio a dom Luiz já tem sido aderido por diversas pessoas ao longo dos dias de mobilização. “Eu vejo nessa posição dele uma manifestação da mão de Deus. Porque é só realmente a mão de Deus, pelo Espírito Santo que está nele, que ele está tendo essa força para levar há tanto tempo esse jejum, porque não é fácil. Eu que fiquei um pouquinho, vi o tanto que é difícil um pouquinho, imagine o tanto que ele está fazendo”, avalia a irmã.
A trajetória do bispo em defesa do rio começou há muito tempo. Em 4 de outubro de 1992, ele iniciou uma peregrinação ao longo do São Francisco, saindo da nascente e chegando à foz no mesmo dia do ano seguinte. Conviveu ainda mais de perto com os ribeirinhos e tornou-se ciente dos problemas enfrentados.
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