O alerta feito pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia da Bahia (CREA-BA) quanto aos problemas do Túnel Américo Simas voltou a preocupar os baianos após o deslizamento de terra que fechou o Túnel Rebouças, principal via de ligação entre as zonas norte e sul do Rio de Janeiro. A análise aponta para construções desordenadas, desmatamento irregular e infiltrações que comprometem a segurança da ligação entre as partes alta e baixa de Salvador. O órgão identificou as irregularidades e apontou risco eminente no início deste ano, porém nada ainda foi feito. Além disso, rachaduras podem ser vistas em outros túneis da cidade.
As construções nas encostas que cercam o Túnel Américo Simas, conforme o engenheiro Jonas Dantas, presidente do CREA-BA, promove a desagregação do terreno. “Todo terreno tem uma coesão se você altera é como se tivesse agredindo. Por exemplo, esse tipo de construção se dá após o desmatamento da cobertura vegetal e natural do terreno. Com isso, você potencializa os riscos porque a coesão das partículas de solo vai embora”, explicou.
Problema que pode se agravar nos períodos chuvosos. “Isso porque, em períodos chuvosos, o impacto da chuva no terreno em que o solo foi agredido é muito maior que nos casos em que a cobertura vegetal é preservada. Neste caso, ao bater no solo (sem cobertura vegetal) a água da chuva quebra a estrutura de coesão das partículas que o compõem. Na prática, abrem-se inicialmente pequenos sulcos que posteriormente se transformam em crateras. Nos casos mais graves a água leva tudo o que tem pela frente”, informou.
Outro problema apontado por Dantas é ausência de saneamento básico, o que aumenta de modo considerável os riscos de um deslizamento de terra. “São construções feitas sem qualquer tipo de fundação. Outro agravante é que o esgotamento sanitário é lançado diretamente no terreno. Esse lançamento contínuo também desagrega o terreno. Ou seja, além de deteriorar o solo você o contamina com o lançamento de esgoto no local e a tendência é aumentar a ocorrência de deslizamentos principalmente nos períodos de alto índice pluviométrico”, apontou.
A estrutura do túnel também está comprometida e, mesmo por quem passa pelo local, as rachaduras podem ser vistas. “Há uma falha geológica e toda região de falha é caracterizada pela instabilidade. Mesmo nos casos em que a falha geológica está inativa não há como oferecer segurança. O que ocorre no Américo Simas é que a estrutura da rocha está fraturada e essas fraturas permitem percolação (infiltração) da água. Isto é, qualquer peso colocado sobre ela agrava a situação e ela pode vir a se movimentar. A soma de fatores como alto índice pluviométrico e construção irregular sobre falha geológica aumenta os riscos de acidentes, a exemplo de deslizamentos”, alertou.
Para o presidente do CREA-BA, “não deveria haver nenhum tipo de construção residencial naquela área e a prefeitura deveria investir num sério trabalho de remoção das famílias para áreas seguras, impedindo novas ocupações “. Além disso, Dantas alerta que “a instabilidade daquela área é alta, pois o paredão é o espelho da falha. Um local altamente deslizante. E as construções contribuem para acelerar a instabilidade. A qualquer momento pode haver um desastre grave, principalmente em períodos de fortes chuvas”. Nesses casos, explicou o presidente do CREA-BA, a chuva funciona como um lubrificante, um agente que vai desagregar ainda mais materiais presentes na zona de falha, à exemplo das construções.
No Rio de Janeiro, a previsão de reabertura do Túnel Rebouças é de uma semana. O túnel foi interditado desde a última terça-feira por causa do deslizamento de terra do Morro do Cerro Corá, na Zona Sul. O deslizamento foi provocado pela chuva intensa que castiga a cidade. Por dia, cerca de 200 mil veículos trafegam pelo local. Na manhã de ontem, o trânsito começava a se normalizar na metrópole.
Nenhum comentário:
Postar um comentário