A luta pela água produz quadros, no mínimo, curiosos no semi-árido baiano. Na zona rural de Guanambi, moradores da localidade de Bom Será, a 25 km da sede, cumprem um ritual cotidiano que começa ainda de madrugada.
Uma longa fila de carroças de tração animal se forma nas imediações de um reservatório e cada gota de água é disputada por mais de 200 pessoas. Mesmo com a prolongada escassez do produto, o sertanejo dá uma lição de humildade e honestidade, retirando apenas o necessário, sem desperdiçar, nem prejudicar o próximo da fila.
O aposentado Abílio Lima Neto, 63 anos, um dos que madrugam para colher os primeiros litros de água, ilustra com palavras a tragédia provocada pela longa estiagem. “O gado está tão fraco que até o vento derruba o animal. Não em mais nada de lavoura, mas a gente vai resistindo até quando Deus der o livramento”.
Todos os dias uma nova família vê esgotar a reserva de água e a demanda crescente já exige um volume maior no reservatório de 12 mil litros. Outros dois, com capacidade igual, não são providos. “A gente queria que as autoridades mandassem mais água porque a que tem só vai até o meio-dia”, explica.
Cacimbas, aguadas e poços artesianos secos ampliam o drama no sertão. “A gente tem que dividir a água de beber com a criação e é obrigado a andar mais de 10 quilômetros para complementar os barris”.
Além da água, que por enquanto é captada gratuitamente, os pequenos agricultores têm que se virar para alimentar o rebanho. Só resta palma, mas o custo é considerado alto para os padrões de vida dos menos favorecidos economicamente.
“Uma carroça de palma está custando até R$12,00”, diz o lavrador Osvaldo Lima Filho, 42 anos. A falta de pastagem deixa o produtor numa encruzilhada. Ou compromete o orçamento, ou amarga prejuízo cm a mortandade em massa do gado. Em época de chuva farta, a palma é oferecida de graça.
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