Música afro, samba, reggae e hip-hop conduziram a multidão em caminhada. Mais que uma comemoração, o Dia Nacional da Consciência Negra foi um desabafo e um grito de alerta. Em Salvador, a data foi lembrada ontem por dezenas de entidades através da 7ª Caminhada da Liberdade, que saiu do Curuzu ao Pelourinho e da 28ª Marcha Zumbi dos Palmares, com saída do Campo Grande em direção ao Terreiro de Jesus.
Trezentos e doze anos após a morte de Zumbi dos Palmares, símbolo máximo da resistência latino-americana à opressão contra africanos e seus descendentes, uma multidão saiu às ruas para propor à sociedade uma reflexão sobre a realidade da população afrodescendente nas diversas esferas da sociedade. Por todos os percursos, faixas e cartazes traziam mensagens de luta contra o racismo e a violência contra os negros. Do alto dos trios elétricos, representantes das entidades emprestavam o verbo à causa. Embaixo, milhares de pessoas aderiam à motivação.
Num dos bairros mais negros de Salvador, a Liberdade, a caminhada organizada pelo Fórum de Entidades Negras da Bahia reuniu os maiores blocos afros de Salvador como o Ilê Aiyê, Muzenza, Olodum, Malê Debalê, Os negões, Cortejo Afro, Ókánbi, entre outros. O toque dos tambores do Ilê decretou o início da caminhada. “Este é um dia para celebrar uma luta que já fazemos diariamente e de lembrar Zumbi, um dos maiores símbolos de resistência negra”, afirmou Vovô do Ilê.
Com o tema “O povo negro do poder, reparação já”, a caminhada alertava sobre a necessidade de maior representação de afrodescendentes em cargos políticos e de influência social. “O número de negros no poder ainda não é representativo e fica muito mais difícil consolidar as nossas reivindicações. Queremos ter mais influência nas decisões da nossa população”, dispara.
Para o diretor executivo do bloco afro Os Negões, Walmir França, a caminhada já é um evento consolidado na cidade. “Começamos com dez mil e hoje já passamos de 80 mil”, ressaltou. Ele lembra que o tema da caminhada é também um incentivo para os jovens negros. “É um sinal para que eles lutem em prol da realização dos seus projetos nas mais diversas áreas e se tornem pessoas representativas como empreendedoras e também no meio político. Eles precisam mudar essa realidade”, avalia.
Durante o percurso, a matriarca do Ilê Aiyê, mãe Hilda Jitolu, foi homenageada com palmas e rufos de tambores. Espremida no chão ou nas sacadas das casas, gente de toda cor. Negros e negras defendiam ideais de liberdade, tudo isso embalado por muita música e demonstrações do orgulho étnico estampadas nos cabelos e nas roupas. “Não é só no Carnaval que o povo negro pode aparecer com destaque. Esse é um dia para que ele mostre sua cara e denuncie a nossa realidade”, disparou a estudante Márcia Santos Neves, 28 anos, que fez questão de dar um novo penteado aos cabelos trançados para participar da caminhada.
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