quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Doadoras do PT eram laranjas, diz auditoria

Auditoria, pedida pela Mude, maior distribuidora da Cisco, constata que as 2 empresas que doaram participavam de esquema de fraude fiscal

Auditoria realizada por um escritório de advocacia aponta que duas empresas que doaram R$ 500 mil ao PT neste ano integravam um esquema de fraude e crimes fiscais criado pela Mude para beneficiar a Cisco com importações fraudulentas.

A Mude é a maior distribuidora de produtos da Cisco no Brasil. Já a Cisco é uma das maiores empresas mundiais de redes para computadores. Segundo a PF, a Cisco usou empresas de laranjas para doar R$ 500 mil ao PT. O dinheiro teria sido doado para que a Caixa Econômica Federal beneficiasse a Damovo, integradora que usa produtos Cisco, em licitação de R$ 9,9 milhões. A Caixa e a Damovo negam.

A auditoria cita as duas empresas, Nacional Distribuidora e a ABC Industrial, que fizeram a doação ao PT, como integrantes do suposto esquema.

A auditoria foi juntada ao inquérito que está com o Ministério Público Federal. O inquérito da PF, que sustentou a Operação Persona, diz que a Cisco controlava uma rede de empresas no Brasil e nos Estados Unidos para importar equipamentos com o valor subfaturado.

A auditoria confirma alguns pontos da investigação. "As importações de determinados produtos fabricados pela Cisco Systems e revendidos no mercado brasileiro por essa sociedade [Mude] são realizadas pela empresa Brastec, Waytec e ABC, que vendem as mercadorias à Tecnosul e à Nacional, que, por sua vez, os revendem a essa sociedade", diz o texto.

Outro trecho da auditoria aponta: "A utilização dos distribuidores Tecnosul [outra empresa acusada de fraudes] e Nacional (...) procura resguardar essa sociedade [Mude] da aplicação, pela fiscalização do Estado de São Paulo", diz .

Encomenda
A auditoria foi encomendada pelo advogado José Roberto Pernomiam Rodrigues, denunciado por envolvimento no esquema, ao escritório Mesquita Neto Advogados, de São Paulo. Rodrigues seria um dos mentores intelectuais do esquema.

A auditoria alerta que a Mude poderia ser autuada pela Receita e pela Secretaria da Fazenda de São Paulo.

Um dado que chamou a atenção dos policiais é o valor de autuação que a empresa poderia sofrer. Segundo cálculos do escritório, a multa poderia ser de R$ 1,117 bilhão, próximo do montante que havia sido estimado pela Polícia Federal (R$ 1,5 bilhão).

A auditoria, de acordo com os policiais, praticamente antecipa o resultado das investigações da Operação Persona, ainda em curso, e é considerada uma das provas mais contundentes do inquérito.

A Folha não conseguiu localizar ontem o advogado Antonio Ruiz Filho, que defende dois diretores da Mude acusados na Operação Persona -José Roberto Pernomian Rodrigues e Marcelo Naoki Ikeda. Na semana passada, Ruiz Filho disse que as acusações contra seus clientes serão derrubadas no decorrer do processo.

Segundo ele, a legislação sobre importação se tornou extremamente complexa e a Receita e a PF cometeram uma série de interpretações equivocadas no decorrer das investigações. "Quando esses equívocos forem desfeitos, ficará provado que os diretores da Mude não cometeram nenhuma fraude", disse Ruiz Filho.

O advogado Paulo Iasz de Morais, que defende Hélio Benetti Pedreira, diz que seu cliente estava afastado da direção da Mude havia dois anos quando foi deflagrada a Operação Persona. "Como meu cliente não acompanhava o dia-a-dia da empresa, ele ficou surpreso com as acusações da Polícia Federal".

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