terça-feira, 20 de novembro de 2007

Governo do MS usou PM para espionar sindicato

O governo de Mato Grosso do Sul usou o serviço de inteligência da Polícia Militar (PM-2) para espionar uma reunião de sindicalistas, promovida pela Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems) e realizada na sede do sindicato dos professores de Campo Grande. Governo e professores travam uma disputa política em torno das regras para as eleições diretas para diretores das escolas estaduais. O governador André Puccinelli (PMDB-MS) divulgou a existência do relatório na manhã de hoje.

A comprovação da ação da PM está no relatório de inteligência nº 156/PM-2/07, que foi entregue ao governador há alguns dias. Gravações foram usadas para fundamentar o relatório. O documento, que traz o carimbo "reservado" e a autenticação da Polícia Militar, relata decisões da assembléia do sindicato.

O relatório afirma ainda que a Fetems ofereceu 10 l de combustível para cada professor que usasse o carro para transportar pessoas para a audiência pública que discutiu as mudanças na eleição para diretor de escola na tarde desta terça-feira, na Assembléia Legislativa. Em outro ponto, o documento da PM afirma que os professores articularam a mobilização de estudantes dos períodos da manhã e da tarde sem o uso de uniformes escolares.

O próprio governador divulgou a existência do relatório durante reunião com a Fetems na manhã de hoje, acusando a entidade de incitar os estudantes. "É por cuidado com as nossas crianças", disse o governador para justificar a ação da inteligência da PM. "Me parece e me foi dito que isso é crime de incitação. Quem se responsabilizará se acontecer alguma coisa com um estudante?", questionou.

O uso da inteligência da PM suscitou crítica dos sindicalistas. "Causa-nos constrangimento passar por esse tipo de coisa: serviço secreto da PM gravando assembléia, como se não tivesse nada mais importante a fazer", disse o presidente da Fetems, Jaime Teixeira.

"É vergonhoso ver um documento desses", disse a diretora da Fetems, Luzia Brito, ao ter o relatório nas mãos ainda durante a reunião da manhã.

O secretário de Segurança Pública, Wantuir Jacini, responsável direto pela operação, defendeu o uso da PM. Jacini apresentou uma versão segundo a qual o governo teria informações de que estava sendo organizada uma manifestação sem precedentes na história do Estado.

"Havia informações de que estava sendo organizada uma manifestação com cinco mil professores que tinha por finalidade impedir o andamento administrativo de todas as secretarias do governo", disse o secretário. "Os informes não se confirmaram", completou.

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